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My cup of tea

"You can never get a cup of tea large enough or a book long enough to suit me" C. S. Lewis

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Leituras #5 A rapariga no comboio

Antes que se lancem na leitura do post é bom referir que o post contém spoilers, muitos spoilers. E se é mau ler spoilers em qualquer livro, em policiais é particularmente mau. Portanto, se não leram e estão a pensar ler ou se estão em plena leitura d'"A rapariga no Comboio", é parar aqui.

Já queria ler este livro há algum tempo, por fim consegui lê-lo. Não é o livro da minha vida, mas gostei. Foi o livro que me fez rogar pragas muitas vezes na manhã seguinte, porque não o conseguia largar. Li-o aí em quatro ou cinco dias e só não o despachei mais rapidamente, porque tenho tido toneladas de coisas para estudar (nem é bom pensar) e só o conseguia ler em tempos mortos e à noite. No final deixou-me com aquela sensação “Oh! Já acabou?”. Não sendo genial, agarrou-me.

Personagens

Os personagens são todos uma cambada de desequilibrados, é a conclusão a que chego. Não há um que se aproveite. É a Rachel que é uma alcoólica de primeira e não se lembra de nada do que faz ou que diz quando está embriagada. Perde o emprego, mente à amiga que lhe aluga o quarto, persegue o ex-marido e no meio disto tudo ainda tem uma obsessão por comboios. Muito normal, certo? A Megan parece a pessoa perfeita, com o marido perfeito, a vida perfeita, a casa perfeita. Mas afinal tudo não passa de uma farsa (quando tudo é tão perfeito, é desconfiar), é tão ou mais desequilibrada que a Rachel. Trai o marido, sente-se uma infeliz por ter deixado o trabalho na galeria e também tem uma obsessão qualquer por controlar pessoas. A Anna é a que parece mais normal. A vítima. A infeliz perseguida pela ex do marido. Mas só no final do livro é que nos apercebemos que para além de desequilibrada (só não se torna alcoólica, porque o casamento não se arrasta por mais tempo) é uma egoísta de primeira. Das três é a que eu menos gosto. É a que eu acho que é menos vítima. Só denuncia o marido porque tem medo que ele a acabe por matar.

Do périplo de personagens masculinas com participação ativa temos mais uma vez um trio: Scott, Tom e Kamal. Kamal escapa. É o que ainda preserva alguma sanidade mental. Se bem que envolver-se com uma paciente desequilibrada talvez seja pisar o risco. Mas mesmo assim, é o mais sensato. Em relação ao Scott, nunca gostei dele. Nunca mesmo. Houve uma fase em que até pensei que fosse o assassino (seria um bocadinho óbvio). Achei-o estranho, com uma dupla personalidade, agressivo… Talvez tenha desculpa, uma vez que depois de a mulher ter sido assassinada descobriu que estava grávida de outro homem. Em relação ao Tom, não nutria especial simpatia, mas daí até ser o assassino… Não estava muito à espera. Revelou-se o piorzinho deles todos.

As outras personagens não têm grande relevância.

Enredo

O enredo está muito bem construído. A autora vai-nos dando detalhes da história ao longo do livro. Devagar, sem muita pressa, vai levantando o véu. Primeiro apresenta-nos Rachel. Vamos percebendo que é alcoólica; divorciada de um homem de quem ainda gosta, mas que a traiu e desempregada. Todos os dias viaja de comboio para Londres e vai-nos dando pormenores da paisagem. É assim que conhecemos Jess e Jason na cabeça de Rachel, Megan e Scott na realidade. Depois percebemos que Megan não é tão feliz (na realidade não é de todo feliz) como Rachel nos faz parecer. É casada com Scott e vive na mesma rua onde Tom, o ex-marido de Rachel, e Anna, a atual mulher de Tom, vivem. Vamos conhecendo Anna e Tom, que parecem um casal normalíssimo e feliz, com uma bebé, Evie. À medida que o livro continua percebemos que Megan começa a ser tratada por um psicólogo, Kamal, com quem enceta um relacionamento. Até que Megan morre. A questão é: quem matou Megan? Eu passei o livro quase todo a pensar se teria sido Rachel ou Scott, ou até Kamal. Tinha mais certezas em relação a Rachel. Não que ela tivesse um motivo válido. Mas era alcoólica e quando consumia não se lembrava do que fazia. Como tinha descoberto que Megan traía Scott poderia ter-se tentado vingado, uma vez que já tinha passado por uma situação similar. Só a 30 páginas do final é que percebi que tinha sido Tom, quando nos é revelado que Tom mantinha um relacionamento com Megan. E aí percebo que Tom é o “vilão” da história, o mau. Mas fiquei surpreendida.

Escrita

Gostei da escrita, é fluida, simples. Gostei do facto de cada capítulo ser narrado por uma das três personagens femininas: Rachel, Megan ou Anna. Vamos tendo a perspetiva de cada uma. Rachel é praticamente a única que introduz dados novos à história, Anna e Megan corroboram e completam. O livro começa com Rachel a narrar os acontecimentos em Julho, depois dá lugar a Megan que começa a narrar os acontecimentos um ano antes, em Maio. Megan morre em Julho, quando a história começa a ser narrada. Megan só está lá para dar o pano de fundo, o cenário, ao mesmo tempo que revela alguns detalhes ou menciona outros que já soubemos por Rachel, até que por fim revela quem a mata, mesmo no final do livro.

Tema

É um thriller psicológico, muito introspetivo em que se procura o assassino de Megan. Nada de muito complexo.

Desfecho

Já li algures que houve quem achasse que o desfecho era óbvio. Não achei óbvio. Como já referi, pensei mesmo que o/a assassino/a fosse Rachel, mas ao mesmo tempo tinha pena, porque apesar de tudo até gostava dela. Quando descobri que tinha sido Tom, um mentiroso compulsivo, traidor, fiquei mais contente.

Ao mesmo tempo, parecia que autora queria nós acreditássemos que fosse Scott, outras vezes queria nós pensássemos que fosse Kamal. Distraiu-nos sempre do personagem que na realidade cometeu o assassínio.

Na parte final, dá ideia que Rachel se consegue manter sóbria, consegue organizar a vida. Mas é uma ideia um bocado vaga. Do género, agora está tudo bem, mas tudo pode acontecer e ela pode descarrilar outra vez.

 

Gostei, recomendo, lê-se bem, e acho que agrada a vários estilos literários, até para quem assume que não gosta muito de ler.

Objetivo para o próximo ano: escrever reviews mais curtos. Vamos tentar.

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