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My cup of tea

"You can never get a cup of tea large enough or a book long enough to suit me" C. S. Lewis

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Leituras #4 As aventuras de Huckleberry Finn

Sabe Deus porquê pensei durante imeeeenso tempo que "As Aventuras de Huckleberry Finn" de Mark Twain relatavam os mesmos episódios que "As Aventuras de Tom Sawyer", mas sob o ponto de vista do Huck. Estava convencidíssima disso sem nunca ninguém mo ter dito ou ter sequer lido em algum lado. Quando descobri que não, que "As Aventuras do Huckleberry Finn" são uma continuação d´"As Aventuras de Tom Sawyer" defini que ainda o havia de ler, nem que fosse para saber o rumo das personagens.

Personagens

Comecei a ler o livro sem saber minimamente do que é que se tratava. Aquilo que sabia vinha do conhecimento do primeiro livro. Estava à espera que o Tom Sawyer tivesse uma ação mais preponderante. Só entra mesmo, mesmo no final do livro. Num dos melhores episódios do livro.

O Huck assume obviamente o papel principal, acompanhado de Jim, o negro que ajuda a fugir. Os dois tornam-se companheiros de fuga. Amigos, mesmo. O que na altura era quase impossível, já que Huck por mais marginal que fosse era branco, e Jim negro. O livro em alguns episódios torna-se bonito uma vez que vai dando conta que apesar das diferenças raciais é possível uma amizade. Os pensamentos do Huck também vão ficando a descoberto, mostrando muita das vezes uma luta entre a conscência e aquilo que julga ser correto. Era do senso comum, na época, que um negro tinha dono e ajudá-lo a fugir era roubar o dono, mas ele achava que qualquer pessoa independentemente da cor tinha direito à liberdade.

As outras personagens mais secundárias, não aparecem durante todo o livro, aparecem em episódios ocasionais. O pai do Huck só aparece mesmo no ínicio e acho que é a personagem mais reles. Até os dois vigaristas são melhores que ele.

Enredo

O livro não é formado por uma única e singular estória. Há um fio condutor que vai unindo os vários episódios e as várias aventuras que Jim e Huck vivem, desde o momento em que Huck simula a sua morte, foge para uma ilha onde encontra Jim e por fim começam a viagem de barco até ao desfecho final. No ínicio do livro, os episódios não me cativaram muito. Pensei que se o rumo do livro continuasse a ser aquele ia morrer de tédio. Não morri, porque as estórias foram-se sucedendo umas às outras, umas mais cómicas do que outras. Uma das minhas partes favoritas foi quando a jangada onde o Huck e o Jim viajam ganha mais dois inquilinos, que se fazem passar por membros da nobreza ao mesmo tempo que param em várias cidades para irem conseguindo ganhar dinheiro de uma forma pouco lícita. Um dos momentos em especial fez-me ter um ataque de riso à meia-noite quase uma da manhã.

Escrita

A escrita é muito simples, fácil de compreender. As palavras vão-se moldando a cada personagem. Esse foi uma das coisas que mais gostei. As palavras têm uma certa flexibilidade e elasticidade. Não são do autor. Cada personagem tem a sua maneira de falar. O livro é narrado na primeira pessoa pelo Huck e é como se ele estivesse realmente ali ao nosso lado a contar-nos todas as histórias.

Tema

Como eu já referi não há ali um único tema, uma única estória, um único episódio. O livro desdobra-se em vários. Mas o racismo, ou a luta contra o mesmo pelas palavras do Huck, é o tema principal. É essa a essência do livro. Não é uma coisa direta. Acho que a palavra racismo nunca aparece. Mas é uma luta silenciosa que vai moldando todo o livro. Há determinadas frases que trazem isso à atenção como esta, por exemplo:

Foram precisos quinze minutos para me decidir a ir pedir desculpa a um negro - mas fi-lo, e nunca lamentei, depois disso, tê-lo feito.

Desfecho

O final é um bocado óbvio: acaba tudo bem. O pai do Huck morre, o Jim fica livre, o Tom Sawyer fica bem... Á semelhança do primeiro livro acaba muito em aberto, a diferença é que o primeiro livro tem uma sequela e este último já não tem. Eu já disse aqui que não acho piada nenhuma a finais muito abertos. O livro quase começa como acaba, o Huck está rico, mas não quer um tutor, quer ser livre, com ou sem dinheiro e isso desemboca no problema inicial do livro.

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Gostei do livro. Não está no meu top de favoritos, mas é bom, lê-se bem, ao princípio nem tanto, mas depois vai-se entrando na história. 

Agora, ando à procura de livro para o próximo mês. Preciso de qualquer coisa que me agarre mesmo, me tire o folgo, me faça ler, comer, dormir e pouco mais (é uma hipérbole, certo, mas perceberam a ideia?). Aceitam-se sugestões.

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