O meus problemas de relacionamento com as bibliotecas
Eu sou pessoa que aprecia bibliotecas. Bastante mesmo. É um sitio giro. Silencioso (Ahahah! Vamos fingir que sim… Já nos debruçamos afincadamente sobre este assunto lá mais para a frente). Com livros por todo o lado. O que só por si já é abonatório. Mesmo quando são livros técnicos que versam sobre assuntos tão interessantes como física quântica, por exemplo (dá para perceber que guardo um ressentimento agudo em relação à física desde os tempos de Secundário, não dá?). Mas, agora que começou a época de exames, o pessoal corre todo para biblioteca como quem quer apanhar a última coca-cola do deserto, e vítimas de uma qualquer amnésia súbita, esquecem-se que a biblioteca não é… sei lá, um cabaré. Ora vamos lá por partes.
1. As bibliotecas são sítios giros. São, sim senhor. Eu já o disse lá em cima e repito. Dá vontade de uma pessoa bambolear as ancas pelo espaço, dar umas quantas voltas nos corredores e deslizar os olhos pelos livros como quem aprecia uma obra de arte. Mas, grande mas, quem se dedicou a projetar bibliotecas lá se terá esquecido que é suposto haver silêncio, e vá de botar soalho bonito que dá um aspeto todo supimpa e coerente com o espaço, mas range. E não é pouco. Uma pessoa toca com a ponta do dedo pequenino do pé no chão e já o chão se abriu numa orquestra sinfónica. Como mudar o chão talvez esteja fora de questão, não sair do lugar fora as vezes estritamente necessárias talvez seja opção.
2. Mais uma vez, a questão premente: silêncio. Por mim podem fazer o que vos der na real gana numa biblioteca. Tudo. Mesmo. Mas em silêncio, claro. Fazer mortais, dançar cha-cha, jogar ao berlinde. Em mute. Que eu sou uma alma por natureza distraída e caso haja alguém que se lembre de fazer qualquer ruído um decibel acima da média, levanto os olhos do que estou a ler e tento descortinar de onde vem o ruído, fico um tanto tempo a analisar a situação, como se me interessasse, e outro tanto tempo a pensar na morte da bezerra. Quando caio em mim, já passou toda uma eternidade. Porquê? Porque alguém fez um ruído maior que o habitual. Não, a culpa não é da minha distração. É da pessoa ruidosa.
3. Eu no ponto anterior talvez tenha exagerado na parte de dizer que podem fazer tudo o que vos der na real gana. Hum… Não podem. Mesmo em silêncio, não podem. Como, por exemplo, atirar papelinhos uns aos outros. Eu sei, há ali uma fase em que está toda a gente prestes a entrar em burn out, e de repente o nosso lado mais racional foge, mas atirar bolinhas de papel uns aos outros não é solução. Palavra que não. Pode parecer divertido e tal, mas não… Digo isto, porque da última vez que passei todo o meu santo dia enfiada numa biblioteca, umas alminhas, dotadas com certeza de uma inteligência acima da média, acharam que engraçado, era porem-se a atirar bolas de papel uns aos outros. E houve ali uma fase em que temi pela minha integridade física. Ainda pensei levantar-me e armar um escabeche, uma coisa assim muito cinematográfica, com direito a gritos e ameaças, mas depois, refleti, e não era bem a minha cena. Deixei-me estar sossegadinha, enquanto gritava impropérios vários para dentro. Entretanto, um deles levantou-se, eu calculei que o moço devia rondar os 100 kg e ter 2m. De maneira que eu com menos de 50 kg agradeci mentalmente a mim própria por ter suportado tamanha parvoíce alheia.
E é isto, gente. Vão pelos meus conselhos. Se toda a gente utilizar as bibliotecas de forma civilizada conseguimos ser todos felizes no mesmo espaço.