Quando nos apaixonamos por um livro
Há livros que são como entrar numa relação amorosa.
Primeiro começamos a conhecer-nos. Lê-se a sinopse. Vai-se lendo uma ou outra review e percebe-se que há ali uma certa química.
Depois, há um dia, em que queremos mais do que isso. Começamos a beliscar as primeiras páginas. Nada assumido. Se der deu, se não der, paciência.
Até que há ali um momento, em que percebemos que estamos irremediavelmente apaixonados. Vamos com ele para todo o lado: viagens, consultórios, tempos mortos, lacunas no horário… Sentimos que a vida perde parte do sentido sem ele. No fundo, sabemos que nunca mais vamos olhar para o mundo da mesma maneira depois dele.
Por fim, sem estarmos à espera, como se um livro resistisse eternamente à nossa avidez, chegamos à última página. Sentimos um vazio. Um buraco que não conseguimos preencher. Fazemos luto e pensamos que nunca mais vai voltar a haver outro. É impossível voltarmos a apaixonar-nos. Como se não soubéssemos que na leitura se vive uma poligamia consentida. De certa forma, desejamos que se eclipsasse toda a história da nossa memória para voltarmos a ler o livro com o mesmo prazer assaz irrepetível. Voltar a viver o nosso primeiro amor com ele. A sorte é que nos livros se podem viver vários primeiros amores.