Vinte centímetros depois e uma doação
Eu tinha dito aqui que estava indecisa em relação a cortar o cabelo curto ou cortar apenas as pontas. Decidi cortar curto. Estava pelo meio das costas ficou acima da base do pescoço. Foi uma mudança enorme.
Há algum tempo atrás, depois de ler este post da Miss Tangerine, defini que se porventura cortasse o cabelo curto e na altura o tivesse comprido, queria doá-lo. Na altura, o meu objetivo seria doá-lo ao IPO, mas como de momento o IPO não está aceitar mais doações de cabelo, decidi escolher uma instituição internacional que aceitasse doações de outros países. Existem pelo menos duas instituições que aceitam cabelo para fazer cabeleiras para crianças vindas do estrangeiro: a Locks of Love e a Little Princess Trust. Eu optei pela Little Princess Trust porque o mínimo de comprimento aceitável são 17 cm, enquanto que na Locks of Love são 25,4 cm (10 inches). Em ambas as instituições os requisitos não são muito exigentes. Aceitam cabelo com cabelos brancos e cabelos pintados. O ideal é enviarem-no num saquinho transparente hermético, sempre numa trança ou rabo de cavalo. De qualquer das formas podem consultar as condições em ambos os sites.
Eu lavei e sequei bem o cabelo em casa, mas optei por não cortar a trança ou rabo-de-cavalo em casa. Pedi à cabeleireira que mo fizesse. E foi o melhor que fiz. Ela penteou-me bem o cabelo, dividiu-o em duas partes e cortou-o. Quando mo entregou percebi que tinha imeeeenso cabelo e fiquei ali uns segundos em choque a olhar para a minha imagem no meu espelho. Foi uma diferença muito grande. Foram vinte centímetros. Entretanto ela acertou o corte de cabelo, portanto no total devem ter sido perfeitos mais de vinte centímetros. O corte foi feito em seco e no início pensei que devia ter enlouquecido para fazer um corte tão radical. Aquela não era eu. Nunca o tinha cortado tão curto. Já o tinha cortado pelo pescoço, acima disso não. Entretanto a cabeleireira lavou-o, secou-o e esticou-o. O resultado foi um bob em que a parte da frente está mais comprida que a parte de trás. Gostei muito de me ver. Estou mais leve, com uma imagem mais clean. Só não sei porque é que ainda não tinha feito antes. Contra todas as minha expectativas ainda não me arrependi. Quando me viram pela primeira vez a maior parte das pessoas ficaram em choque, mas até agora ainda não houve ninguém que me tivesse dito que não gostava. A esmagadora maioria diz-me que me fica super bem, só duas ou três pessoas é que me perguntam se não tive pena ou como é que tive coragem.
Para ser sincera não tive pena. Não mesmo. Quer dizer há sempre aquele processo de desabituação. O cabelo estava tão grande, agora está curto, a minha imagem está diferente, a forma como cuido dele mudou… Mas são detalhes. Coloquei-o num saco transparente hermético e vou hoje enviá-lo para a Little Trust. Vai servir para fazer cabeleiras para meninos com cancro. Só por isso já valeu a pena.
Se alguém estiver numa situação mais ou menos semelhante à minha, experimentem. Porque não? É a tal história. È cabelo, cresce e estão a dar uma hipótese à mudança. E no meio disto tudo ainda há um gesto solidário bonito.